terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Carta dos pais aos filhos... Algures no futuro...


«Querida e amada Carolina,
O dia em que esta velha não for mais a mesma, espero que tenhas paciência e me compreendas.

Quando entornar comida sobre a minha camisa e esquecer como atar os sapatos, que tenhas paciência comigo e que te lembres das horas em que passei ensinando-te as mesmas coisas.

Se,quando conversares comigo,eu repetir as mesmas histórias, que sabes de sobra como terminam, não me interrompas e escuta-me. Quando eras pequena, para que dormisses, tive de te contar milhares de vezes, a mesma história até que fechasses os olhinhos.
Quando estivermos reunidas e, sem querer, fizer as minhas necessidades, não fiques com vergonha. Que compreendas que não tenho culpa disso, pois já não as posso controlar. Pensa, quantas vezes, pacientemente, troquei as tuas roupas para que estivesses sempre limpinha e cheirosa.

Não me reproves quando eu não quiser tomar banho, que sejas paciente comigo. Lembra-te dos momentos em que te persegui e dos mil pretextos que inventava para te convencer a tomar banho.

Quando me vires inútil e ignorante diante de novas tecnologias que já não poderei entender, te suplico, que me dês todo o tempo que seja necessário, e que não me magoes com um sorriso sarcástico.

Lembra-te que fui eu quem te ensinou tantas coisas. Como comer, vestir, e como enfrentar a vida, tão bem como hoje o fazes. Isso é o resultado do meu esforço e da minha perseverança.

Se em algum momento, enquanto conversarmos, eu me esquecer do que estávamos a falar, que tenhas paciência e me ajudes a lembrar. Talvez a única coisa importante para mim naquele momento seja o facto de te ter perto de mim, dando me atenção, e não o que falávamos.

Se alguma vez eu não quiser comer, que saibas insistir com carinho. Assim como fiz contigo. Também que compreendas que com o tempo não terei dentes fortes, e nem agilidade para engolir.

E quando minhas pernas falharem por estarem tão cansadas, e eu já não conseguir mais me equilibrar... Com ternura dá-me a tua mão, como eu o fiz quando tu começaste a andar com as tuas perninhas tão frágeis.

E se algum dia me ouvires dizer que não quero mais viver, não te aborreças comigo. Algum dia entenderás que isso não tem nada a ver com o teu carinho , ou com o quanto eu te amo.
Espero que compreendas que é difícil ver a vida a abandonar aos poucos o meu corpo, e que é difícil admitir que já não tenho mais o vigor para correr ao teu lado, ou para te envolver nos meus braços, como dantes.

Sempre quis o melhor para ti e me esforcei para que o teu mundo fosse mais confortável, mais belo, mais florido.

E até, quando me for, construirei para ti outra rota, em outro tempo, mas estarei sempre contigo, zelando por ti.

Não te sintas triste ou impotente por me ver assim. Não me olhes com cara de dó. Dá-me apenas o teu coração. Compreende-me, e apoia-me como o fiz quando começaste a viver. Isso me dará forças e muita coragem.

Da mesma maneira que te acompanhei no início da tua jornada, peço-te que me acompanhes para terminar a minha. Trata-me com Amor e paciência e eu te devolverei sorrisos e gratidão, com o imenso Amor que sempre tive por ti.

Atenciosamente,

Tua Mãe.»

6 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Muito bom este artigo que eu já postei no meu blog, o ano passado. Recebi-o por mail e estava assinado, "teu pai"
Um abraço.


Bom que se identificou. E bom que encontrou o caminho da saída. A vida é feita de labirintos, e às vezes perdemo-nos neles.
Felicidades

Rakel Macedo disse...

Olá elvira :)

Obrigado pelo comentário. Também recebi este texto por mail. Como não vinha indicado o autor fiz algumas alterações mínimas para adaptar à minha realidade.

Os labirintos são bons... Através deles por vezes encontramos caminhos totalmente novos que podem conduzir a uma felicidade muito mais plena...

:) Bom resto de semana

António Inglês disse...

Rakelita

Minha querida amiga, esta poderia ser a carta de muitos de nós aos nossos filhos.
Mas esta cena repete-se e repetir-se-á eternamente, queiramos ou não.
O grande problema é que a forma como tudo acaba não tem nada a ver com aquilo que desejaríamos malfadadamente.
Um beijinho
José Gonçalves

Rakel Macedo disse...

Jose...

É. Raramente tudo acaba da maneira menos previsível...

Beijinho

Elvira Carvalho disse...

Prémio no Sexta-feira.
Um abraço

Elvira Carvalho disse...

Prémio no Sexta-feira.
Um abraço